sábado, 1 de maio de 2010

SE BEM ME LEMBRO ...

Minha história de leitora começou assim:


Recordo-me que ia pra escola à tarde e sentia um palpitar de emoção quando o professor, na ocasião meu pai, pedia-me para fazer a leitura de algum texto, confesso que a cartilha “Caminho Suave” com seus textos enfatizados em uma determinada letra não me atraia muito, mas o fato de ter um espaço em que todos paravam para me ouvir e ver o que eu já tinha aprendido me deixava entusiasmada.
Como era numa escola do interior de Canoinhas, chamada Escola Isolada Estadual do Rio D` Areia do Meio, a responsabilidade de deixá-la limpa e organizada para o próximo dia de aula recaía também sobre o professor. Meu pai, que além de professor também exercia a profissão de lavrador, deixava esta tarefa para suas filhas, já que eram sete. Eu com meus seis e sete aninhos ia junto com minhas irmãs mais velhas e enquanto elas varriam a sala e organizavam as carteiras ficava a vasculhar os livros. Naquela época as prefeituras mandavam pras escolinhas mais afastadas um material chamado “Ciranda dos Livros”, era uma espécie de catálogo de plástico para pendurar na parede, onde cada livro podia ser encaixado, pois não havia biblioteca lá. Entre os livros estavam o da Terra dos Meninos Pelados e O Jabuti que eram os meus preferidos.
Mas além daqueles doces momentos de escapar para trás de uma carteira e “roubar por minutos” a história de um dos livros, tenho outro momento em minha memória que até hoje sinto vontade de revivê-lo que é a leitura do livro “O Barquinho Amarelo”. Era um livro grosso, com o desenho de um menino dentro de um barquinho. Ao folhear as páginas as personagens eram as mesmas: Rosinha, Marquinho e Marcelo, mas de vez em quando surgia uma história diferente. As imagens daquele livro estão nítidas em minha mente até hoje. Em alguns momentos parece que fiz parte de algumas das histórias ali contadas ou que as histórias eram sobre mim.
Sinto-me um pouco triste ao saber que hoje as crianças têm tanto acesso aos livros, porém muitas não se dão conta da importância da leitura em suas vidas, por outro lado fico feliz ao saber que mesmo com tantas privações na minha infância, consegui ter acesso aos livros e assim me apaixonar pelo conhecimento.
Hoje em dia quando leio um livro, procuro encontrar nele uma pitada de emoção para que aquilo que estou lendo faça sentido para minha vida. Não quero ter pressa de a aula acabar, pois quero entendê-la como leitura para a vida, mas quero novamente vasculhar os livros e voltar a ser criança.

Joana Koscianski dos Santos.

domingo, 11 de abril de 2010

Sugestão de atividade com gêneros textuais - leitura

Atividade de leitura destinada a alunos de 8ª série do Ensino Fundamental

Grupo: Gênero da ordem do argumentar.



Alguns textos:

Charges






































Disponíveis em: http://geografiapelomeioambiente.blogspot.com/2008/07/aquecimento-global.html


Tira









A Notícia, 10 de março 2010





Editorial

A natureza oferece em abundância o que o ser humano precisa para nascer e crescer saudável. Mas o homem, quando testado para o uso inteligente do que lhe é oferecido, é desafiado a criar estruturas que, em muitos casos, são indispensáveis. Prover um recém-nascido de condição para se alimentar de leite materno deveria ser tratado como dever do Estado. Para isto, bancos de leite deveriam ser como quaisquer repartições de saúde que se espalham no país. Unidades básicas. Mas não o são. Enquanto algumas mães contam em abundancia com o líquido rico em nutrientes para bem servir a seus bebês, muitas outras não contam com a mesma felicidade.

Armazenar este leite seria algo tão simples, se houvesse comprometimento governamental neste sentido. Onde há um banco de leite, o sucesso é absoluto, o retorno inclusive preventivo é proporcional e imediato. Afinal, a criança amamentada de hoje é a criança saudável e nutrida de amanhã. Uma modesta estrutura para bem guardar o leite, que pode ser repartido e servido a todas as crianças deve ser prioridade. Que as autoridades de saúde atentem-se para esta necessidade que singelamente pode ser resolvida. Não há dinheiro que pague a benesse de uma primeira alimentação à base do precioso leite. De quebra não será caro fazer isso. Logo, mãos à obra, governantes.

A Tribuna, 25 de março de 2010



Artigo

Um anjo no morro
LUIZ CARLOS PRATES

Nunca tive dúvidas, há seres humanos que vêm à vida terrestre para nos passar uma mensagem da existência dos anjos. Esta semana fiquei sabendo de uma história comovente, dramática e angelical, própria dos anjos. A história foi contada por um bombeiro do Rio de Janeiro, e os bombeiros não mentem. Aliás, os bombeiros também têm muito de seres especiais, não raramente disfarçados de humanos, são anjos.
Antes de contar da história, devo dizer – apenas lembrar, é claro, que o nosso bem mais apreciado é a vida, não temos outro bem senão a vida, é tudo o que temos.O sacrifício da vida não nos passa pela cabeça, e quando pessoas sacrificam a própria vida por causas políticas ou, pior do que tudo, religiosas, estamos diante de seres doentes, insanos.Mas sacrificar a vida por outra vida, ah, isso é para poucos, para pessoas especiais, iluminadas. É a história contada pelo bombeiro carioca. Estava nos jornais.
A história conta que as equipes de salvamento de pessoas nos desabados morros do Rio de Janeiro chegavam à suprema exaustão, mas não cediam ao cansaço. A certa altura, ouviram gemidos, o som do desespero humano. Os bombeiros localizaram uma jovem adolescente, soterrada junto com a avó. Vivas. Iniciado o trabalho de salvamento, os bombeiros ouviram o grito enérgico, determinado, da jovem: – Salvem primeiro a minha avó, primeiro ela, primeiro ela, a senhora primeiro, vó... A guria gritava determinada, primeiro a avó, primeiro a vida da avó. O salvamento durou horas, a avó foi salva. Quando os bombeiros chegaram à menina, ela estava morta. Santíssima Trindade, o que é isso? Que menina era essa?
Quem estuda a psicologia sob intenso sofrimento e estresse sabe que o ser humano vira quase um bicho, passa a viver pelo instinto, e o instinto tem na vida seu alicerce maior. A vida é tudo, salvar a vida é o norte existencial de quem está em grave sofrimento. Quem era essa menina? Quem rosto tinha? Não sei, nunca vamos saber. Mas o que importa que rosto têm os anjos, quem são eles? Isso é irrelevante, o relevante é a grandeza da alma, o desprendimento da vida em favor de outra vida. Guria, não te conheço, nunca te vou ver viva, mas tenho a mais absoluta certeza de que tu vieste à vida para dar vida, vida à mãe da tua mãe. Que linda.


Artigo publicado na Edição de N° 8770, 11 de abril de 2010 do Diário Catarinense.



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Colocando em prática:

Domínio da comunicação social: Discussão de assuntos sociais controversos, visando um entendimento e um posicionamento perante eles.

Capacidades desenvolvidas: Sustentação de ideias, refutar e negociar posições.
Textos de opinião: Textos Jornalísticos – Artigo assinado, charge, tiras e editorial.

Objetivo: Mostrar aos alunos as características dos textos de opinião, enfatizando a questão do uso da linguagem não-verbal como aspecto predominante e como recurso intencional de uma mensagem de maior impacto em charges e tiras. Solicitar a eles que observem como o autor desse tipo de texto expõe seu ponto de vista, porém deixa ao leitor a possibilidade de interação e tomada de posição sobre determinado assunto. Levá-los a perceber que um texto de opinião é feito quando queremos nos posicionar criticamente frente a algo que está desagradando, quando não todas as pessoas, um grande número delas e assim compreender a dimensão social deste tipo de texto.

Justificativa: Os alunos ainda não demonstram uma leitura crítica dos textos jornalísticos de opinião, para eles, por exemplo, a charge é apenas desenhos que alguém fez e que para ilustrar escreveu algo ou vice-versa. Por isso a necessidade de se trabalhar este gênero focado em tipos textuais específicos para que o aluno perceba que se trata da opinião de alguém, que há uma intenção de caráter social e principalmente consiga interagir com essas ideias dialogando e inferindo seu ponto de vista.

Atividade:

1. O contato: conhecendo o tipo textual

Objetivos e atividades: Disponibilizar textos diversos de opinião para que assim os observem quanto à organização e reconheçam diferenças formais que os compõem e discutam questões relativas ao público alvo.
Conceituar estes tipos de texto, observando as características estruturais - forma e linguagem de cada um e qual é o espaço de divulgação dessa opinião.



2. Contrastando as formas

Objetivos e atividades: Comparar textos escritos e visuais que retratam uma mesma situação, no sentido de entender que a linguagem não é só palavra e contrastar as características de uma charge com os outros textos de opinião, listando diferenças e semelhanças.

3. Interpretação e resignificação

Objetivos e atividades: Mostrar material diverso (discursos de comentaristas de TV e rádio e colunistas de jornais) sobre determinado assunto em discussão na atualidade solicitando ao aluno que escreva qual a mensagem que lhe chegou como leitor.
Propor que produzam um texto de opinião a partir de algo que está lhe deixando insatisfeito, seja no ambiente escolar, familiar ou de qualquer outra ordem.
Solicitar-lhes a exposição dos trabalhos para a comunidade escolar, para que compreendam que este tipo de texto tem como principal meio de veiculação o jornal impresso e por isso é algo que é feito para a leitura de um grande número de leitores.

4. Estudo da ação comunicativa

Objetivos, atividades e justificativa: evidenciar para o aluno a intenção com que se faz este tipo de texto, identificando com eles frases e elementos textuais que comprovem isso.



A intertextualidade é algo que não se percebe através da escrita somente, por vezes ela aparece numa correlação com a situação. Em charges e artigos de opinião é comum percebermos a relação entre o que está exposto com o que vivenciamos e isso não deixa de ser uma relação intertextual. A própria função do gênero textual de opinião atribuído à charge e ao artigo de opinião já os fazem correlacionados pela intencionalidade; que é apresentar um ponto de vista sobre determinado assunto e permitir que o interlocutor dê significado àquilo que lê.

Pode-se tranquilamente trabalhar a intertextualidade através destes dois tipos de textos, uma vez que no trabalho com este gênero temos que recorrer a outros textos para compreender seu significado.

A interdisciplinaridade é algo que vai acontecer naturalmente, pois não há como discutir com o aluno um problema atual sem resgatar com eles questões geográficas, históricas, matemáticas, biológicas e principalmente artísticas. Daí pedir o auxílio dos outros professores para ampliarmos o trabalho de forma a fazer o aluno aprender efetivamente.

Um pouco de poesia


Descrever-me


Joana Koscianski dos Santos


Uma parte de mim

é pé no chão é rua

outra parte

vôo sem direção - mundo da lua.


Uma parte de mim

é escrever;

outra parte pensar.


Uma parte de mim

é dizer;

outra parte

ouvir e respeitar.


Uma parte de mim

é descrever;

outra parte

narrar e partilhar.


Uma parte de mim

é criticar;

outra parte

é elevar e elogiar.


Uma parte de mim

disserta, opina;

outra parte

argumenta: aprende e ensina.


Descrever cada parte como única

parte é possível,

— impossível é só uma das partes viver,

— será ousadia?

— será crescer?

Texto baseado no poema Traduzir-se